A avaliação fisiológica de estenose coronariana por FFR é o padrão ouro para a determinação da gravidade de lesões e para a tomada de decisão sobre intervenção percutânea em pacientes com síndrome coronária crônica ou com Síndrome Coronariana Aguda sem Supra de ST (IAMSSST). Já foi demonstrado que a revascularização completa, ou seja, das lesões culpadas e não culpadas de pacientes com Síndrome Coronariana Aguda com Supra de ST resulta em menores taxas de nova revascularização. Porém não há dados sobre qual é o melhor método (FFR ou angiografia) para a tomada de decisão sobre intervir ou não nas lesões não culpadas.
O estudo FLOWER-MI (Flow Evaluation to Guide Revascularization in Multivessel ST-Elevation Myocardial Infarction), randomizou pacientes que foram submetidos a angioplastia primária e que tinham lesões não culpadas, para duas estratégias: revascularização guiada por FFR(n=590) ou revascularização guiada por angiografia (581).
O follow up foi de 12 meses, com idade média de 63 anos, sendo 15% mulheres, 18% diabéticos e 35% tabagistas. O envolvimento da parede anterior ocorreu em 30% dos pacientes e em 46% dos pacientes as lesões não culpadas estavam na Descendente Anterior (DA). Foram excluídos pacientes com instabilidade hemodinâmica, revascularização cirúrgica prévia, calcificação coronária importante e presença de oclusões crônicas.
Interessante notar que 96% das intervenções em lesões não culpadas foram realizadas de forma estagiada.
O desfecho primário (morte por qualquer causa, infarto não fatal ou hospitalização não planejada com necessidade de revascularização urgente em até 12 meses) ocorreu em 5.5% no grupo guiado por FFR e em 4.2% no grupo guiado por angiografia (HR, 1.32; 95% IC, 0.78 to 2.23; P=0.31), portanto não havendo diferença. Ocorreram 9 mortes no grupo guiado por FFR (1.5%) e 10 mortes no grupo guiado por angiografia (1.7%).
Quanto aos desfechos secundários, infartos não fatais ocorreram em 3.1% no grupo guiado por FFR e 1.7% no grupo guiado por angiografia; e a revascularização urgente em 2.6% vs 1.9% respectivamente (p=não significativo). O custo foi mais elevado na estratégia guiada por FFR.
O estudo conclui que entre pacientes submetidos a angioplastia primária e com lesões não culpadas em outros vasos, a revascularização guiada por FFR não se mostrou superior a estratégia guiada por angiografia, falhando em mostrar redução de morte, infarto ou revascularização urgente. Pelas atuais diretrizes, recomenda-se que a revascularização completa seja preferencialmente realizada na mesma hospitalização do evento índice, e baseado nesse estudo, o uso de FFR ou angiografia são equivalentes para a abordagem das lesões não culpadas.
Dr. Thyago Furquim
Cardiologista e Cardiologista Intervencionista
Hospital Sino Brasileiro / Rede D’Or São Luiz - Osasco
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