A tecnologia acelera a medicina em uma velocidade desumana, arrastando hospitais, ultrapassando médicos e dando carona aos pacientes que exibem smartphones monitorando sua saúde em tempo real.
Fica a pergunta: O médico será atropelado ou será o condutor da inteligência artificial (IA) na sua prática? Freá-la é impossível.
A resposta é desafiadora e alguns respondem, com certeza, distópica: Os doutores serão substituídos por robôs, em breve.
O futuro da prática médica parece claudicar entre o nosso medo e o desejo da IA na medicina. O medo da IA é um sintoma revelador de uma prática médica paralisada na noção do “tratar doenças”, gerando relações médico-paciente assimétricas, com médicos pressionados pela suposta eficiência em analisar exames e prescrever polifarmácia cada vez mais complexas, reservando pouco tempo para a pessoa do paciente. Estudos mensuraram que a maioria dos médicos interrompem os pacientes em média a cada 13 segundos.
Paradoxalmente, os pacientes historicamente tácitos têm agora sua voz valorizada. O The Beryl Institute, um dos principais institutos que investiga o comportamento do consumidor da saúde, pesquisou as principais expectativas destes durante a internação e encontrou no topo do ranking a simples necessidade de escuta, seguidos por necessidade de comunicação e tratamento que respeitasse suas preferências e valores, que são de baixo custo ou até gratuitos. Enquanto isso, as menos ranqueadas foram facilidades e amenidades como tv a cabo, room service e estacionamento, que são de alto custo.
Fica claro o descompasso que se estabelece entre as novas demandas dos consumidores da saúde, a incessante evolução da tecnologia, gerando um gigantesco volume informações, e o ritmo de trabalho intenso dos médicos.
Torna-se urgente a revisão da prática médica, onde o desafio será criar um ponto de convergência que incorpore os contínuos avanços da tecnologia, potencializando nossas hard skills e liberando tempo para focarmos nas soft skills, viabilizando uma conexão pessoal e empática com a pessoa vive a experiência do adoecimento.
A moderação desta convergência vem sendo protagonizada pelos pacientes. Para a criação de uma verdadeira parceria com o médico, teremos que incorporar o Método Clínico Centrado na Pessoa, que estabelece uma abordagem que integra o melhor da medicina baseada em evidências, respeitando as pessoas em suas necessidades e crenças, e buscando a tomada de decisão de forma compartilhada.
Não adiantam os fetiches apenas com o híbrido do doutor robô: pessoas adoecidas querem e merecem um cuidado de excelência técnica, mas também que esteja alinhado com suas expectativas, com um sentido compassivo que lhes assegure uma conexão humana.
Dr. Eduardo Novaes
Cardiologista Hospital Aliança – RDSL – Bahia
MBA em Experiência do Paciente e Cuidado Centrado na Pessoa pelo Hospital Sírio Libanês em parceria com o The Beryl Institute .
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