MASTER DAPT: Dupla terapia por 1 mês suficiente em pacientes de alto risco de sangramento submetidos a angioplastia.
O tempo de duração da dupla antiagregação plaquetária (DAPT) em pacientes submetidos a angioplastia vem sendo matéria de grande debate e de estudos nos últimos anos.
Atualmente a duração da Dupla antiagregação plaquetária em paciente com alto risco de sangramento é incerta. Os Guidelines recomendam a abreviação da DAPT nesses pacientes por um período de 6 meses ou menor. Porém essas recomendações possuem nível de evidência C, indicando que isso reflete a opinião de especialistas.
Foi apresentado no ESC 2021 o resultado do estudo MASTER DAPT, um ensaio clínico realizado com pacientes que apresentavam alto risco de sangramento e que foram submetidos a angioplastia com stent com polímero biodegradável e eluição de Sirolimus.
O objetivo do estudo foi avaliar se 1 mês de DAPT preservaria o benefício em relação a eventos cardiovasculares, mitigando os desfechos hemorrágicos, em comparação com a terapia dupla de maior duração. Foi um estudo de não inferioridade.
Incluiu 4.579 pacientes de 30 países com síndrome coronariana crônica ou aguda, com alto risco de sangramento, que foram submetidos a angioplastia de todos as lesões graves com a prótese com polímero biodegradável eluído de sirolimus. Aqueles pacientes que não apresentaram eventos isquêmicos ou hemorrágicos e que aderiram ao regime de dupla antiagregação plaquetária foram selecionados e incluídos no estudo no período de 30 a 44 dias após a angioplastia.
A randomização foi feita com uma mediana de 34 dias, na relação de 1:1 para os braços de DAPT abreviada e para DAPT padrão.
No braço de DAPT abreviada houve descontinuação imediata da dupla antiagregação e manutenção de monoterapia até o estudo ser concluído, exceto para aqueles que estavam em uso de anticoagulação oral por indicação clínica, que fizeram uso da terapia simples por até 6 meses após a angioplastia.
No outro braço, o da DAPT padrão, os pacientes receberam a medicação por até 6 meses após a angioplastia. Para aqueles em uso de anticoagulação oral por indicação clínica, a DAPT se estendeu por mais 2 meses (3 meses no total) e seguiu com o uso de monoterapia após.
Após 335 dias, 4.547 pacientes (99,3%) completaram o follow up e foram obtidos os seguintes resultados:
NACE (Net Adverse Clinical Events) composto por todas as causas de morte, infarto, AVC e sangramento Major ou clinicamente relevante, a estratégia de abreviação do uso de DAPT não foi inferior a terapia padrão (7.5% vs 7.7% - HR: 0,97 – 95% IC: 0,78-1,2 / diferença no risco: -0,23% - 95% IC:-1.8 a 1.33; p<0,001 para não inferioridade).
Quanto ao MACE (Major adverse Cardiac and Cerebral Events) composto por morte por todas as causas, infarto e AVC, a estratégia de abreviação do uso de DAPT não foi inferior a terapia padrão (6.1% vs 5.9% - HR: 1.02 95% IC:0,9-1,3 / diferença no riso: 0,11% - 95% IC: -1,29 a 1.51; p=0,0014 para não inferioridade).
E por fim, quando ao Sangramento Maior ou sangramentos clinicamente relevantes (ocorridos entre a randomização e 335 dias e definidos como BARC 2,3 ou 5), a estratégia de abreviação do uso de DAPT foi superior a terapia padrão (6.5 vs 9.4% - HR: 0,68 95% IC: 0,55-0,84; p<0,001 para superioridade – diferença no risco: -2.82% - 95% IC -4.40 a 1,24).
Com isso o estudo conclui que a dupla terapia por um mês após a angioplastia em pacientes com alto risco de sangramento preserva o risco de isquemia e reduz o risco de sangramento.
Referência:
Valgimigli M, Frigoli E, Heg D, et al., on behalf of the MASTER DAPT Investigators. Dual Antiplatelet Therapy After PCI in Patients at High Bleeding Risk.
Dr. Thyago Furquim
Cardiologista – Hospital Sino Brasileiro / Rede D’Or São Luiz – Osasco – SP
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